sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Pode pôr o meu filho perfeito, que eu não tenho tempo?


Alguns destes pais já passaram pelo consultório de Maria Jesús Alava Reys, psicóloga espanhola que lança agora em Portugal o livro 'O não também ajuda a crescer' e que, a esse propósito, partilhou com a agência Lusa alguns dos casos que tem trabalhado e que revelam um grande sofrimento de pais e filhos.

'Educar não é fácil. Apesar de hoje em dia os pais estarem seguramente mais preocupados com a educação dos filhos, coincidem vários aspectos sociais mais difíceis, como a ausência de irmãos em muitas famílias e a falta de tempo', disse a especialista, autora de vários livros campeões de venda sobre comportamento.

Se os filhos precisam de pais presentes, os pais precisam de tempo para serem pais. Ambos não encontram o que necessitam e acabam, muitas vezes, nos consultórios dos psicólogos.

'Os consultórios dos psicólogos estão cheios de educadores deprimidos e pais perdidos que desistiram e que procuram, com bastante cepticismo, algo que lhes permita encontrar um pouco de luz entre tanta escuridão', lê-se na obra de Maria Jesús Alava Reys.

A especialista reconhece, contudo, 'erros gravíssimos' que estes profissionais têm cometido e que estão hoje a ter repercussões muito sérias.

Os pais que seguiram a orientação defendida há anos de que era melhor deixar as crianças fazerem tudo, pois podiam ficar traumatizadas, estão hoje a pagar por isso.

'Nós, psicólogos, já pedimos perdão por isso', afirmou, lembrando que os piores casos que tem acompanhado - e vê cerca de 500 crianças por ano- são precisamente filhos que assim agem porque os pais não são consequentes.

Ao pais o seu papel e, para esta especialista, ele não passa por serem amigos dos filhos.

'Os pais não têm de ser amigos dos filhos. Este é um dos principais horrores que se cometem na educação. Amigos há muitos, mas só temos dois pais e a criança precisa que o pai actue, não como um amigo, mas como um pai', disse.

Se um pai actuar como amigo, sublinhou, o filho não o respeitará e mais tarde poderá acusar o educador de ter falhado neste papel.

Esta psicóloga defende, por isso, mão firme na educação dos filhos, com muitas gargalhadas à mistura. Preconiza, essencialmente, tempo de pais.

'Não se trata de ser escravos dos filhos, pois isso resultaria em filhos manipuladores. Não é acudir sempre que ele chama, pois ele tem de saber esperar. É estar com eles, nem que seja meia-hora e, principalmente, estar presente para quando eles necessitarem de falar e ser ouvidos', disse.

E acrescentou: 'As crianças hoje têm mais coisas, mais brinquedos, mas menos tempo dos pais, são mais infelizes e chegam ao ponto de dizer nas consultas que se sentem terrivelmente sós'.

O mau comportamento é, muitas vezes, a solução encontrada por estas crianças, para terem a atenção da família.

Por seu lado, os pais assumem que não conseguem educar uma criança com um ou dois anos, sofrendo com tarefas como dar de comer ou pôr a dormir o filho.

'Os pais devem desfrutar da sua paternidade e saber fazer o que têm de fazer. Nós, com a nossa experiência, orientamo-los nesse sentido', explicou.

A especialista deixa uma única 'dica': 'A insegurança transmite-se. A felicidade também'.

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